Ericson Pires:
a poesia em busca da instantaneidade do instante
Nanci de Freitas
O poeta carioca Ericson Pires (1971 – 2012) fez uma travessia intensa em seu percurso de 40 anos de vida, em grande parte entrelaçados com a experiência artística como poeta, ator, músico e performer, desdobrando-se pelas brechas entre as fronteiras das linguagens, numa atuação na qual vida e arte se misturam. No desejo de capturar a “instantaneidade do instante do instante”, construiu uma trajetória que passou pelo movimento de poesia CEP 20.000, pelo coletivo de música Hapax e a militância na política das artes, do corpo e no cotidiano urbano da cidade do Rio de Janeiro. Mestre e Doutor em Literatura pela PUC RIO, onde realizou pesquisas que resultaram nas publicações dos livros: Zé Celso Oficina-Uzyna de corpos (Editora Annablume, 2004) e Cidade Ocupada (Aeroplano, 2007). Como poeta, publicou os livros: Cinema de garganta (Azougue, 2002) e Pele tecido (7 Letras, 2010).
Ericson Pires foi professor no Instituto de Artes da UERJ, a partir de 2007, no Departamento de Linguagens Artísticas. Foi um dos cinco professores que assinaram, como pesquisadores associados, o projeto aprovado num edital da FAPERJ, em 2011, para a implantação do Laboratório de Artes Cênicas, espaço que ele não viu concluído e onde o Mirateatro realizou a experiência cênica com os poemas de seu livro Pele Tecido, uma pequena homenagem à sua participação nos meandros da vida acadêmica e suas relações (in) tensas entre arte e universidade. Sua presença e sua fala afiada ronda nossa memória de encontros, espaços, corpos, embates, performances.
A poesia de Ericson Pires nos assombra com a força libertária que, à maneira de um Walt Witman, afirma no livro Pele Tecido: “vai, este será o sentido!”; com a entrega do corpo à matéria da poesia: “aquele que escreve é também aquele que é escrito”. E sua intensidade se traduz num quase epitáfio, que ultrapassa a (im) possibilidade de tanta força vital: “O homem acabou. sobra desejo. sobra força. sobra o que continua. ninguém pode esperar sem o seu desejo. o destino é o desejo. o desejo nunca existiu. o desejo é o desejo. resto”. É tanto no “resto” quanto no “desejo” que nos embrenhamos na urgência de abraçar as palavras de Ericson, do livro Pele Tecido, para matar a saudade e nos contaminar de sua força telúrica e criativa, num processo artístico cheio de riscos, que se apresenta como performance cênica, buscando um modo de dizer, fazer e se conectar com sua fala poética.